MMIPO

Francisco de Lacerda Cardoso
Benfeitor | Capitalista

 Filho do casal António Lacerda de Mesquita e Antónia Margarida, este grande benfeitor da Santa Casa da Misericórdia do Porto, capitalista e proprietário, irmão e mesário da instituição, nasceu a 30 de março de 1859 no lugar de Vilar, da freguesia de Barrô, no concelho de Resende. Neto paterno de Luís Cardoso e de Ana Margarida, de Vilar, e materno de José de Mesquita e de D. Casimira de Lacerda, do lugar das Lamas, foi batizado a 3 de junho do mesmo ano na igreja românica de Barrô, sendo padrinhos os seus tios Francisco António e mulher Filipa, então ausentes em Pernambuco, no Brasil.

Francisco de Lacerda Cardoso emigrou para o Brasil, para onde terá partido com pouco mais de 14 anos de idade, o que era vulgar na época, pois, em 1873, requereu passaporte com destino ao Rio de Janeiro. De acordo com informações constantes no seu testamento, esteve na cidade de Belém, capital do Estado de Pará, onde terá desenvolvido atividade empresarial, tendo legado para a Sociedade Portuguesa Beneficente do Pará (ainda hoje em atividade) o usufruto de um prédio que possuía na rua de Santo António.

Em 1920, Francisco de Lacerda Cardoso já se encontrava a residir na cidade do Porto. À data do seu testamento, de 16 de setembro de 1935, morava na rua de Costa Cabral, n.º 606. Nele nomeou a Misericórdia do Porto por sua testamenteira e herdeira, conforme pode ler-se: "De todo o remanescente da minha herança, incluída a propriedade ou raiz dos haveres cujo usufruto fica legado a outrem, instituo minha universal herdeira a Santa Casa da Misericórdia do Porto".

No seu testamento, contemplou os seus familiares e amigos mais próximos, nomeadamente com pensões vitalícias e com o usufruto de vários prédios, bem como os mais pobres e várias instituições da região do Douro. A título de exemplo refira-se que legou ao Asilo de Mendicidade de Lamego, ao Asilo da Infância Desvalida ou das Raparigas Abandonadas de Nossa Senhora dos Remédios, da mesma cidade, e ao Hospital da Misericórdia de Mesão Frio, a quantia de 30 contos a cada.

Foi admitido como irmão da Santa Casa em 21 de março de 1920, tendo sido nomeado vogal substituto da Mesa Administrativa em 26 de setembro do mesmo ano, presidida então pelo insigne provedor António Alves Cálem Júnior, tendo-se tornado membro efetivo. Em 1922, foi eleito vogal da Direção Administrativa do Hospital do Conde de Ferreira e do Sanatório Hospital Rodrigues Semide.

Em 1927 recebeu o diploma de irmão honorário por "?haver antecipado o pagamento do legado de 250 contos deixados a esta Misericórdia [do Porto] pelo bemfeitor Snr. Joaquim Cardoso Teixeira?favorecendo assim a instituição em mais de 40 contos?".

Faleceu no dia 2 de julho de 1936, tendo sido sepultado na secção privativa da Misericórdia do Porto, sita no Cemitério do Prado do Repouso, onde a Mesa Administrativa mandou erguer um jazigo.

O seu retrato, exposto na Sala dos Benfeitores, é uma pintura a óleo sobre tela do consagrado pintor Acácio Lino, representado neste Museu e nos principais museus portugueses, a saber: Museu Nacional de Soares dos Reis, no Porto; Museu Nacional de Arte Contemporânea, em Lisboa; Museu de Grão Vasco, em Viseu.

O benfeitor surge-nos sentado de perfil, a três quartos, com um porte distinto e elegante, num ambiente que remete para o seu quotidiano. Trata-se de uma composição que denota grande sobriedade, com a utilização de tons discretos. O rosto e as mãos do retratado são os elementos em que incide a luz. A rigidez do rosto de Francisco de Lacerda Cardoso é aparente, pois, nos seus lábios, advinha-se um sorriso bondoso. De resto, nesta pintura, Acácio Lino evidenciou dois grandes traços da personalidade, invulgares, que caracterizaram este grande benfeitor da Misericórdia do Porto: a retidão e a generosidade.


Francisco de Lacerda Cardoso  
Acácio Lino, 1937
Óleo sobre tela