Nicolau Nasoni. A frontaria da Igreja da
Misericórdia
A Igreja da Santa Casa da Misericórdia do
Porto constitui um dos edifícios mais notáveis da Rua das Flores, artéria que
foi aberta a partir de 1521 de acordo com a indicação de D. Manuel I.
A construção da Igreja remonta a meados do
século XVI, altura em que a Casa do Despacho da Misericórdia já se encontrava
operacional. Foi benzida em 1559 por D. Rodrigo Pinheiro, bispo do Porto, e executada
pelo mestre Manuel Luís. Contudo, a bênção da Igreja não significou a sua
conclusão. A cobertura da nave e os acabamentos do edifício decorreram ainda
nas décadas seguintes.
Devido a problemas estruturais, nomeadamente
na cobertura, em meados do século XVIII a Igreja foi alvo de uma intervenção
profunda. O arquiteto Nicolau Nasoni foi incumbido do projeto de uma nova
frontaria, enquanto o engenheiro Manuel Álvares Martins dirigiu os trabalhos
respeitantes ao coro e ao corpo da nave. A execução do projeto de pedraria
coube ao mestre Domingos da Costa e a outros colegas de ofício.
Os dois desenhos da nova frontaria, posse da Misericórdia do Porto, são os únicos projetos que sobreviveram das obras portuguesas de
Nasoni e neles são consideradas três hipóteses ao nível do remate. De todas, a
Irmandade decidiu-se pela materialização da solução mais simples, sendo a
primeira proposta apresentada pelo arquiteto a mais audaciosa de todas, pois
apresenta-nos uma fachada mais elevada, integrando as esculturas alegóricas da
Esperança e da Caridade.
A redução da altura da fachada e a eliminação das alegorias resultaram, assim, como destacou Robert Smith, numa "perda de imponência e equilíbrio na composição, que, na primeira proposta, dava à zona do remate uma grande importância". Não obstante, esta obra é, sem dúvida, uma das mais representativas do arquiteto e em que podemos encontrar todo o repertório decorativo que lhe era caro.