Cabeça relicário de São João Batista
Escultura
A cabeça relicário de São João Batista pertence à capela instituída por volta de 1623, na igreja privativa da Misericórdia do Porto, por Baptista da Costa de Sá, boticário dos hospitais da instituição. No seu testamento, datado de 1635, a Misericórdia é nomeada testamenteira da sua herança e administradora da capela, sendo indicadas todas as disposições testamentárias e os bens que à sua capela deixa vinculados. Salientando-se a parte do texto que refere "a minha capela deixo bem ornada (?) a lâmpada que deixo esteja sempre acesa de dia e de noite (?) pois no retábulo e banco dele está um Santuário de Relíquias com o Santo Lenho e Sudário de Cristo Nosso Senhor, e entre outras, e com particular de São João Baptista (?). Ou ainda a seguinte referência "No Sacrário de São João Baptista está a cabeça do Santo, que tem em si muitas relíquias (?). Neste Sacrário se guarda o Santíssimo Sacramento, em 5ª feira de Endoenças (?)[1]".
O estudo da peça permitiu-nos constatar a presença de duas reservas com relíquias, sendo a mais visível a que se encontra na testa, sem nenhuma inscrição, mas que presumivelmente será a relíquia mencionada como sendo a de São João Batista. A segunda reserva encontra-se no pescoço, sendo pouco perceptível devido à barba de São João, que parcialmente a oculta, possuindo a seguinte inscrição: " LIGNV[M] CRUCIS. S. [ACTUM]. SUDARII. XPI". (Santo Lenho e Santo Sudário de Cristo).
Trata-se de uma cabeça relicário de São João Batista com elevado valor simbólico e de grande raridade, pelo facto de possuir não só uma relíquia do Precursor de Jesus Cristo, como também fragmentos do Santo Lenho - a Cruz de Cristo - e do seu Santo Sudário.
É historicamente conhecido o culto das relíquias e do fascínio, fervor religioso e prestígio que lhe estava associado. Daí ter resultado a sua excessiva multiplicação por toda a Cristandade, sendo que quem detém estes tesouros os considera como sendo verdadeiros[2].
Legenda imagem: Cabeça relicário de São João Batista
Europa (?) século XVII
Madeira policromada, cristal da rocha (?), metal, fragmentos ósseos e têxtil
[1] CUNHA e FREITAS, Eugénio Andrea da - História da Santa Casa da Misericórdia do Porto. III vol. Porto: SCMP, 1995, pp. 251-253
[2] ECO, Umberto - A Vertigem das Listas: DIFEL, 2009, pp. 173-177