Nazaré
Álvares:
SOU ESTA
TALVEZ OUTRA
QUE EU DECIDA
"O magnífico retrato de Aurélia de Sousa é um manifesto de autenticidade contra os padrões de agrado masculino, frontalmente abstendo-se de corresponder à expectativa de a mulher ser largamente dócil e adornada para encanto dos homens. A resistência que apresenta Aurélia de Sousa vem de se colocar ao centro de sua própria perturbação, ensimesmada numa austeridade que lhe confere o poder que a sociedade jamais lhe entregaria de bom grado. Entre incómodo e poder, aí está uma figura eterna naquilo que resulta em sua libertação. Diante da genuinidade de Aurélia de Sousa todos nos intimidamos e fascinamos. Ela é inteira. Não está dependente senão de sua individualidade.
Esta mesma natureza existe nos autorretratos de Nazaré Álvares, busca obstinada a que se tem entregado nos últimos anos. Artista revelada pelas mãos do mestre Jaime Isidoro, ostenta sua face profundamente problematizada, diria mesmo prejudicada, por se ver sob sua própria violência, uma lunaridade que explora o feio e que denuncia uma visão trágica de si, que é o mesmo que acusar o sentido trágico da vida e da sociedade.
Sendo atirada para seu próprio abismo, Nazaré Álvares aparece ao observador em toda a sua força. Quem declara vulnerabilidade ascende-lhe acima. Está tomando sua rédea, essa outra dimensão para onde se transferem tantas dores como se houvesse a tela de padecer daquilo que então sara no artista.
Observar-se acabou sendo uma auscultação de bravura. Cem anos depois da morte de Aurélia de Sousa, outra mulher se impõe como legitimada no seu discurso nada dócil ou para cortesia dos amores e das inteligências masculinas. Nazaré Álvares, como a novecentista, intriga-nos de igual modo, provocando a mesma intimidação e o mesmo fascínio.
Estou
convencido de que, desde Aurélia de Sousa, nenhuma pintora em Portugal se retratou com tão
intensa urgência, tão incondicional frontalidade, quanto Nazaré Álvares."
Valter Hugo Mãe
SOBRE A AUTORA
Nazaré Álvares nasceu em Montalegre no ano de 1965. Licenciada em Artes Plásticas / Pintura, pela Escola de Belas Artes do Porto, em 1988. Realizou exposições individuais em algumas das mais prestigiadas galerias do país, destacando-se o trabalho longo com a lendária Alvarez; bem como participou em inúmeras coletivas, tendo estado também representada nas mais importantes feiras de artes nacionais e estrangeiras.
