Manuel José Pereira de Lima, proprietário nos concelhos do Porto, de Vila Nova de Gaia e de Braga, nasceu a 21 de junho de 1836 na freguesia da Sé, da cidade do Porto. Era filho de Manuel José Pereira de Lima, natural de Pernambuco, no Brasil, e Maria da Conceição Gomes Lima, natural de Braga, os quais residiram na rua de Santo Elói, no Porto. Os seus avós paternos, Manuel José Pereira Lima, negociante, e Ana Joaquina da Piedade Lima, moradores que foram na calçada dos Clérigos, deixaram, através de testamento redigido em 12 de abril de 1862, vários legados destinados a estabelecimentos hospitalares da Santa Casa da Misericórdia do Porto.
Casou com Claudina Carmina Pinto Dias Lima, falecida a 17 de outubro de 1912, da qual não teve filhos, a quem deixou o usufruto de toda a sua herança. Na companhia do casal viveram Rita Ricardina da Costa (1842-1934) e Virgínia Pinto de Castro (1870-1935), as quais foram contempladas no testamento do benfeitor e nomeadas para testamenteiras do mesmo. A primeira recebeu "dous contos de reis como lembrança"; a segunda, após o falecimento de D. Claudina, teria "o usofruto vitalicio de todos os meus prédios rusticos e urbanos com a condição de se a mesma usofructuaria casar fazer preceder o seu casamento de contracto pelo qual se dote com o indicado usofructo dos predios". Ambas seriam contempladas com o remanescente da herança, caso sua mulher não lhe sobrevivesse.
Rita Ricardina evidenciou-se como pintora amadora, tendo participado nas exposições da Academia Portuense de Belas Artes, em 1880 e 1884, e na da Sociedade Portuense de Belas Artes, em 1918. Foi também benfeitora da Misericórdia do Porto, a quem instituiu por herdeira do remanescente da sua herança destinada para fundo do "Asilo de Cegos Pereira de Lima".
O testamento de Manuel José Pereira de Lima foi lavrado a 11 de maio de 1896 na freguesia de São João da Foz. No que respeita à Santa Casa da Misericórdia do Porto, o benfeitor deixou vários prédios rústicos e urbanos "com o encargo perpetuo de mandar celebrar annualmente duas missas, uma no dia seis de Maio por alma de meu pai, e outra no dia vinte e cinco de Novembro por alma de minha mai", assim determinou no seu testamento. Mais referiu que "se minha mulher instituir na sua propriedade sita em Villa Nova de Gaya, rua do Castello numero um a seis, um asylo para cegos, e a administração deste asylo ficar a cargo da mesma Santa Casa da Misericordia, n'este caso os prédios que a esta deixo em propriedade, ou o producto da venda d'elles, servirá para fundo permanente para manutenção do mesmo asylo".
Assim veio a acontecer em 1938, quando o "Asilo de Cegos Pereira de Lima" foi inaugurado. A partir de 1975, além de idosos invisuais de ambos os sexos, este estabelecimento passou a receber idosos com necessidade de internamento. Além da Misericórdia do Porto, o benfeitor contemplou a confraria de Nossa Senhora do Rosário, sita na igreja de São Pedro de Lomar, em Braga, bem como alguns dos seus sobrinhos e afilhados.
Manuel José Pereira de Lima faleceu a 01 de janeiro de 1899 na sua casa do Castelo de Gaia, sita na freguesia de Santa Marinha, em Vila Nova de Gaia, tendo sido sepultado no cemitério da Lapa.
O retrato do benfeitor, exposto na sala dedicada à História e à Ação da Misericórdia do Porto, é da autoria de Aurélia de Souza. Além do retrato a óleo do benfeitor, na coleção de pintura da Misericórdia do Porto constam outros retratos executados pela pintora, nomeadamente o dos benfeitores António da Silva Moreira e Joaquim Pereira Rosas.
Manuel José Pereira de Lima
Aurélia de Souza, século XIX (finais)
Óleo sobre tela