Luzia Joaquina Bruce nasceu no Brasil, na cidade do Maranhão, e presume-se que, com grande probabilidade, na sua ascendência, para além de sangue escocês, também haja sangue africano. Foi no Maranhão que conheceu o homem que seria até ao fim dos seus dias a paixão da sua vida: João António Lima, natural de Lisboa, que emigrara para o Brasil onde enriqueceu por via de negócios ligados à produção e ao comércio agrícola.
Quando conheceu a bela adolescente, Luzia de seu nome, João António Lima era um homem "desquitado" de sua primeira mulher. Apaixonaram-se rapidamente. Mas dado o impedimento canónico, nunca puderam celebrar o matrimónio. Isso não os impediu de construírem uma vida a dois, numa união que foi marcada por um duradouro e recíproco amor.
João António Lima e a companheira deixaram o Brasil em data que não podemos precisar e vieram fixar-se na cidade do Porto, na Rua de Costa Cabral, onde construíram um palacete que ainda hoje existe com algumas marcas dos donos originais, e nele está instalado o Académico Futebol Clube. Ao lado da sumptuosa casa, João António Lima fundou uma fábrica de tabaco, de nome "A Lealdade". O belo edifício ainda lá está, contíguo à casa. Lima, um brasileiro de torna-viagem, bem-sucedido, tornou-se um senhor "de grossos cabedais" e deixou a sua marca e o seu nome naquela zona da cidade, como se pode comprovar reparando na toponímia.
João António Lima faleceu em agosto de 1891, deixando à companheira a sua copiosa fortuna. Mas Luzia não se limitou a receber passivamente os bens deixados pelo homem da sua vida. Tomou sobre os seus ombros a administração da fortuna, como se comprova pela documentação depositada no Arquivo da Misericórdia e pelas notícias das viagens que fez, inclusive ao Brasil. Até à sua morte, ocorrida em 17 de janeiro de 1917, Luzia Joaquina Bruce fez da exaltação do companheiro o programa da sua vida. Ao financiar a construção do Hospital da Lapa, inaugurado em 1904, fez questão de que nele ficasse bem visível até hoje a estátua do benfeitor João António Lima. Quando ditou o seu último testamento, em 1916, deixou legados a diversas instituições de apoio aos jovens da cidade do Porto e da cidade do Maranhão. Aos do Porto impôs a condição de assistirem às missas anuais que se celebrassem na Igreja da Lapa por alma do dito João António Lima e que tratassem de vigiar se a capela-jazigo se mantinha bem cuidada pela Irmandade da Lapa. Até a Câmara Municipal do Porto recebeu uma doação volumosa mediante o encargo de mandar reparar qualquer estrago que se verificasse no jazigo ou na estátua de João António de Lima.
Importa vincar a sua capacidade de benemerência em favor dos pobres, dos doentes, dos desamparados. Finalmente salientemos que os bens móveis e imóveis que Luzia Joaquina Bruce deixou à Misericórdia do Porto foram de enorme monta, constituindo mesmo um dos maiores legados de todos os tempos recebidos pela Santa Casa.
Foi lamentável que as suas doenças, sobretudo aquela de que morreu - um osteossarcoma do maxilar superior - a tivessem feito sofrer muito e levado para longe do Porto, em busca da cura que não conseguiu. Foram vãs as diligências feitas pela Santa Casa da Misericórdia do Porto para que ela viesse tratar-se no Hospital de Santo António. De qualquer modo foi intensa a consternação sentida na cidade quando a notícia da sua morte foi divulgada. A Mesa Administrativa mandou colocar uma coroa de bronze na sua sepultura em Lisboa, gravou o seu nome no seu Livro de Ouro e encomendou a escultura do seu busto, em mármore, que fez assentar no átrio do Hospital de Santo António.
Para mais pormenores ver o belo livro "Luzia Joaquina Bruce. Da Humildade à Benemerência", editado pela Misericórdia do Porto em 2016.
Luzia Joaquina Bruce
Acácio Lino, 1933
Óleo sobre tela