José António dos Santos, o Voluntário, solteiro e enjeitado, foi um Irmão e um Voluntário da Santa Casa da Misericórdia do Porto que, ao longo de mais de 30 anos, frequentou o Hospital de Santo António "(...) confundindo a todos a dedicação e caridade com que ajudava os enfermeiros, no tratamento dos doentes, pensando-lhes as feridas, concertando-lhes as camas, ministrando-lhes as dietas e confortando-os com a palavra e o exemplo; - e isto muito espontânea, humilde e generosamente; levando-lhes muitas vezes de sua casa, marmelada e caldos de galinha, sem jamais se fatigar, nem afrouxar no seu santo zelo", assim nos informou Pinho Leal na sua obra Portugal Antigo e Moderno .
Dada a grande reputação e admiração que José António dos Santos granjeou entre os colaboradores e os utentes do Hospital, e a própria população da cidade do Porto, a Mesa Administrativa da Santa Casa entendeu realizar o retrato deste Irmão, em sessão ordinária de 30 de junho de 1841 , conforme se lê na inscrição nele existente:
A Meza d'esta Santa Casa, de 1840 a 1841, mandou tirar á sua custa o retrato do Irmão Jose Antonio dos Santos para dar-lhe um testemunho da sua gratidão e excitar a posteridade a imitar a extremada caridade, com que elle tem curado por mais de 30 annos os doentes do hospital.
Este quadro, executado com o desconhecimento do retratado, foi inicialmente exposto numa das enfermarias do Hospital, que o Voluntário costumava visitar com maior frequência. Porém, o retratado ficou melindrado com este gesto de reconhecimento público por parte da Santa Casa e, segundo Pinho Leal, "retirou-se muito contristado, e não mais voltou ao hospital?" . Esta atitude acabou por comover profundamente todos aqueles que o conheciam.
José António dos Santos fez o seu testamento em 30 de setembro de 1842. Nesta altura residia no Hospital da Ordem do Carmo, para onde se havia recolhido, encontrando-se doente. Instituiu Tadeu António de Faria, negociante, como seu herdeiro e testamenteiro com a obrigação deste dar à referida Ordem a quantia de 250.000 réis "para ajuda do curativo dos seus Irmãos enfermos" .
Faleceu a 6 de outubro de 1842, tendo sido sepultado no interior da Igreja da Ordem do Carmo.
Coube a José Alves Ferreira Lima, pintor, miniaturista, litógrafo e professor na Academia Portuense de Belas Artes, a pintura do retrato de José António dos Santos, de corpo inteiro e olhando para o observador, o qual surge a dar um caldo a um doente do Hospital que repousa num leito. Um outro retrato de José António dos Santos pode ser contemplado na Ordem do Carmo.
Ferreira Lima, falecido precocemente em 1844, realizou vários retratos para particulares e para instituições da cidade do Porto, nomeadamente a Associação Comercial do Porto, a Ordem da Lapa e a Misericórdia do Porto. Dentre as obras realizadas para esta instituição, importa salientar os retratos de D. Pedro IV, de 1836, e o do reverendo padre José Joaquim Teixeira da Rocha, de 1841.
José António dos Santos
José Alves Ferreira Lima, 1841
Óleo sobre tela