Last Folio: mais do que uma exposição
O MMIPO - Museu e Igreja da Misericórdia do Porto aceitou com muito entusiasmo a sugestão do Presidente da Câmara do Porto, Rui Moreira, de acolher uma exposição, proposta pela Embaixada da Eslováquia, designada "Last Folio". O tema em si é suficientemente desafiante nos tempos que correm. A exposição retrata uma escola judaica, numa cidade da Eslováquia, próxima da fronteira com a Ucrânia. Fala da presença de nazis e na perseguição a judeus.
Conta-nos histórias de pessoas que viveram naquela comunidade, que frequentaram aquela escola, pais e filhos, que juntos sofreram a perseguição assente em princípios que levam à negação do homem e da mulher, das crianças e dos amigos. Conduzem à denuncia e à delação fácil só porque não somos da mesma religião, do mesmo sexo, da mesma idade ou temos a mesma opção política.
Esta história que mexeu na vida de muitas pessoas, algumas que não são identificadas ou não se conhecem a sua origem ou o futuro paradeiro, lembramos a sucessiva luta entre a democracia e o autoritarismo. Os autores que nos contam o que aconteceu com a ascensão do nazismo também sofreram na pele os custos da liberdade quando abandonaram a sua pátria após a invasão soviética, em 1968, de Praga. Não conseguiram materializar a ideia da Primavera de Praga mas sentiram o eterno Verão, em 1989, da queda do muro de Berlim.
Vindos de pontos diferentes no mundo, com experiências artísticas diferentes, os autores refazem o trajeto de vidas e deixam-nos uma mensagem inquietante para o nosso espírito critico. Nunca, mas mesmo nunca, confiar naqueles que nos querem dividir e separar a pretexto de quaisquer valores.
"Last Folio" deixa-nos um alerta e um grito de revolta. Tudo aquilo que aqui vemos pode repetir-se sempre. Fica , então, um alerta cívico ao lembrar o poema de Bertolt Brecht "há aqueles que lutam um dia e por isso são muito bons; Há aqueles que lutam todos os dias e por isso são muito bons; Há aqueles que lutam anos e são melhores ainda; Porém há aqueles que lutam toda a vida ; esses são os imprescindíveis".
Aqueles que ali lutaram toda a vida deixam-nos um exemplo de determinação e coragem. É este o exemplo que a exposição "Last Folio" nos oferece e que queremos mostrar, ao Porto e ao Norte, com o apoio das Embaixadas de Israel, da Alemanha e da Eslováquia, da Câmara Municipal do Porto e da Santa Casa da Misericórdia do Porto. Sejam bem-vindos.
António Tavares, Provedor da Misericórdia do Porto.
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No tempo em que a guerra ressurge no espaço europeu, a cidade do Porto,
cumprindo o seu apanágio na defesa da Liberdade e da Paz, recebe a exposição
Last Folio no MMIPO - Museu e Igreja da Misericórdia do Porto.
Nesta aclamada mostra sentimos, através de testemunhos deixados de um tempo igualmente marcado por investidas bélicas e perseguição, a Segunda Guerra Mundial, que o reavivar da memória histórica interpela-nos. Traz a inquietude da reminiscência da tormenta que nos alerta, nos torna mais humanos e conscientes ante o sofrimento.
Richard Zimler, Embaixador da Exposição Março 2022
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Last Folio são as rugas do tempo na palma da mão da mãe. Folhas e livros não lidos faltam como carinhos. Mãe há apenas uma, em todos os lugares e para todos. Dos seus olhos amorosos, lemos as primeiras palavras. O seu belo rosto tem milhares de páginas. Todos os dias uma nova página escrita e uma ruga gentil. Em cada ruga, profunda sabedoria, lições aprendidas e memórias de infância.
Last Folio é uma lembrança de carinhos interrompidos há quase um século atrás, na pitoresca cidade de termal Bardejov, no leste da Eslováquia e Europa Central.
Last Folio é uma recordação de vigilância, que ainda hoje inesperadamente, cria uma forma assustadora de rugas de sangue e livros rasgados pelas armas. Protejamos os nossos filhos nos braços da mãe, as suas palmas enrugadas e carinhos, as folhas do livro da vida, na Eslováquia, em Portugal e em todo o mundo.
Obrigado, Yuri Dojc e Katya Krausova, obrigado por Last Folio. Nós não esqueceremos.
E agradecemos a Portugal ter recebido Last Folio. Pela ajuda na promoção da memória cultural e pela difusão do conceito de não esquecer. Agradecemos à Cidade do Porto e à Direção do Museu e Igreja da Misericórdia do Porto a transmissão da mensagem principal da exposição Last Folio ao grande público português e estrangeiro no norte de Portugal. Acreditamos que o sentimento e a profundidade da visão de cada uma das obras da exposição divulgarão os valores básicos da missão da Santa Casa da Misericórdia do Porto, que incluem o Espírito de Equipa e Cooperação, Honestidade, Integridade, Respeito pelo Outro e Tolerância.
Oldrich Hlavacek, Embaixador da Eslováquia em Portugal
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Last Folio é a história de uma descoberta acidental sobre um período terrível da
história do mundo. O fotógrafo eslovaco-canadiano Yuri Dojc compele-nos a
pensar nas vidas jovens que se alteraram trágica e irreparavelmente através de
imagens de livros abandonados. Esta exibição icónica e este documental rio
emotivo lembram- nos as consequências horríveis e profundas do
antissemitismo, do racismo e do ódio, cujo impacto, ainda hoje em dia, é sentido
pelos sobreviventes do Holocausto, pelas suas famílias e comunidades. Ao
mesmo tempo, Last Folio encoraja-nos a preservar memórias, para refletirmos e
lutarmos pela justiça, pelos direitos humanos e pela dignidade.
Lisa Rice Madan, Embaixadora do Canada em Portugal
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Trata-se de uma poderosa coleção de imagens que transportam o visitante numa
viagem através da memória cultural dos judeus da Europa Central.
Last Folio inclui, também, retratos de sobreviventes envelhecidos do Holocausto e de ruínas comoventes de escolas, sinagogas, mikvahs e cemitérios. A cada fotografia é dado o seu espaço numa página separada, com o respeito devido a um sobrevivente, com o vazio e a perda a ocuparem eles mesmos o lugar da memória.
Espero que o povo português olhe para esta exposição enquanto material reflexiva para os muitos paralelos históricos de destruição cultural, encorajando as novas gerações a aguçar os seus valores de inclusão o e tolerância. Este trabalho não é (só? ) sobre judeus. Este trabalho confronta o visitante com um passado desaparecido, mas leva-nos a repensar os nossos tempos presente e futuro. A sua inegável qualidade artística não escamoteia este aspeto confrontacional, de forçar o espetador a olhar a realidade enquanto o motiva na tomada de posições definidas face ao antissemitismo e outras formas de ódio. Este trabalho é, podem ter a certeza, sobre todos nós.
Dor Shapira, Embaixador de Israel em Portugal