A Rua de "Santa Catarina das Flores": cinco séculos na estrutura urbana do Porto"
Inserida no antigo perímetro muralhado da cidade medieval, a Rua das Flores, originalmente designada por "Rua de Santa Catarina das Flores", foi rasgada por iniciativa de D. Manuel I a partir de 1521. Representativa do novo modelo de planificação das arquiteturas urbanas europeias, a Rua constituiu-se como o eixo mais importante da urbe.
A sua abertura, em terrenos pertencentes à Mitra e ao Cabido, permitiu articular o Largo de São Domingos, importante centro cívico e comercial, com uma das saídas da cidade - a Porta de Carros, rasgada na Muralha Fernandina, diante da Igreja de Santo António dos Congregados e enquadrada entre duas casas conventuais: o Convento dos Lóios (Palácio das Cardosas); e o Mosteiro de São Bento de Ave Maria. Este cenóbio de freiras beneditinas, fundado por D. Manuel I em 1518, foi demolido a partir de finais do século XIX para, no seu espaço, ser erguida uma estação ferroviária - a Estação de São Bento.
Na Rua habitaram importantes famílias nobres e burguesas da cidade do Porto, como os Cunhas Pimentéis, os Ferrazes Bravo ou os Sousa e Silva. Estas construíram as suas residências, que se demarcavam das restantes casas de habitação pelo plano da sua fachada e pela pedra de armas, evidenciando o estatuto socioeconómico dos seus proprietários.
Nos séculos XVIII e XIX instalaram-se na Rua as principais ourivesarias da cidade, algumas ainda em atividade, que tornaram este eixo urbano na "Rua do Ouro" portuense.
Atualmente e como produto da reabilitação urbana do Porto, a importância da Rua advém da profunda reabilitação que sofreu e da consequente dinâmica turística e cultural, que a transformaram numa das artérias mais emblemáticas da cidade.
A Misericórdia do Porto na Rua das Flores
Fundada a 14 de março de 1499 por D. Manuel I, através de Carta Régia, e com a primeira sede no Claustro Velho da Sé portuense, a Misericórdia do Porto só se instalou definitivamente na Rua das Flores em 1550, altura em que a Casa do Despacho se encontrava operacional. A Igreja da Irmandade seria benzida em 1559 por D. Rodrigo Pinheiro, bispo do Porto, e executada pelo mestre Manuel Luís. Contudo, a bênção não significou a sua conclusão. A cobertura da nave e os acabamentos da igreja decorreram nas décadas seguintes.
Devido a problemas estruturais, em meados do século XVIII a igreja foi alvo de uma intervenção profunda protagonizada pelo arquiteto italiano Nicolau Nasoni, que foi incumbido do projeto de uma nova frontaria, e pelo engenheiro Manuel Álvares Martins, que dirigiu os trabalhos respeitantes ao coro e ao corpo da igreja.
Desde 2015, no edifício da antiga sede operacional da Misericórdia do Porto, foi instalado o MMIPO - Museu e Igreja da Misericórdia do Porto que conserva e divulga a memória e a identidade desta instituição.
Atividades
A Santa Casa da Misericórdia do Porto, através do MMIPO - Museu e Igreja da Misericórdia do Porto, tem vindo a trabalhar com a Faculdade de Letras da Universidade do Porto, nomeadamente com o DCTP - Departamento de Ciências e Técnicas do Património e com o CITCEM - Centro de Investigação Transdisciplinar "Cultura, Espaço e Memória", no sentido de se organizar um conjunto de atividades em torno da comemoração desta efeméride.
Com efeito, está a ser preparado um Colóquio Internacional, intitulado "A Rua de Santa Catarina das Flores: cinco séculos na estrutura urbana do Porto", que contará com a presença de investigadores de várias universidades portuguesas e europeias, e uma Exposição, a decorrer na Galeria dos Benfeitores, que procurará evocar meio milénio de história, de património e de memória da Rua.