Francisco de Azeredo Teixeira de Aguilar, o 2.º Conde de Samodães, nasceu na freguesia de Santa Marinha de Gaia, em 16 de julho de 1828. O pai, tenente-general Francisco de Paula de Azeredo Figueira de Carvalho, liberal militante, após a revolta de Aveiro e do Porto de 16 de maio de 1828, teve que escapar para o estrangeiro, com outros, para não acabar na forca miguelista da Praça Nova. A mãe, Maria do Carmo de Lemos Teixeira de Aguilar, uma senhora da nobreza rural, conheceu na carne a radicalização da intolerância política, visto que, na ausência do marido exilado, deu à luz o seu filho numa quinta gaiense, onde se acolhera. O pai só pôde ver o filho no final de 1829 quando Dona Maria do Carmo se juntou ao marido, em Bruges.
Regressados a Portugal após a vitória final do Liberalismo, Francisco de Azeredo foi aluno de Joaquim Ramalho Ortigão no Colégio da Irmandade da Lapa, prosseguindo depois os estudos no Liceu de Lisboa. A experiência no estrangeiro nos primeiros anos de vida, o convívio com o pai e a sua própria reflexão sobre o que via e ouvia, mostraram-lhe que a vida obriga a opções fundamentais e que é imperioso agir segundo a própria consciência. Também muito cedo terá compatibilizado no seu espírito a defesa das liberdades constitucionais com a crença católica.
Cursou a Universidade de Coimbra, nas Faculdades de Matemática e Filosofia e ingressou na carreira das armas, frequentando o curso de Engenharia Militar e Civil da Escola do Exército, em Lisboa.
Em 1851 foi eleito deputado por Lamego, iniciando então um longo ciclo dedicado à atividade política.
À cultura portuguesa prestou relevantíssimos serviços, não apenas como autor de livros mas também como jornalista católico, em vários periódicos, mas especialmente no jornal «A Palavra» no qual, entre 1872 e 1910, assinou centenas de artigos.
Os sucessivos mandatos como Provedor da Misericórdia, em épocas de grande aperto económico do país, lograram a saúde financeira da instituição, contribuíram para a tomada de consciência da vocação unitária e corporativa dos diversos estabelecimentos da Santa Casa.
O Conde de Samodães era um exímio poliglota, exprimindo-se fluentemente em seis idiomas, para além do latim e de boas noções de hebreu, grego e árabe. Tal desenvoltura linguística foi-lhe útil como tradutor (mais de uma dezena de títulos), mas também como homem de negócios, visto que foi fundador e diretor da Real Companhia Vinícola do Norte.
Foi condecorado pelos governos de Espanha e de França. Desempenhou cargos relevantes: Ministro da Fazenda, Par do Reino, Deputado à Câmara dos Deputados, Vice-Presidente da Câmara do Porto, Governador Civil, Inspetor da Academia de Belas Artes, Diretor da Sociedade do Palácio de Cristal, Presidente da Comissão Executiva da Exposição Industrial de 1897.
Faleceu em 3 de outubro de 1918. Homem das letras e das artes, matemático, engenheiro, político, a sua existência tornou-se num inestimável valor do Património Humano, não apenas do Porto, onde foi uma das personalidades mais influentes na segunda metade de oitocentos até ao fim da Monarquia, mas também do País e da Europa.
Conde de Samodães
Francisco José Resende, 1886
Óleo sobre tela