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Ana Margarida Soares da Silva Passos
Benfeitora da Misericórdia do Porto

Natural da freguesia da Sé, da cidade do Porto, Ana Margarida Soares da Silva Passos era filha de João Pinto Soares e de D. Ana Joaquina Barbosa Soares. Casou com José da Silva Passos (1802-1863), advogado da Relação e da Casa do Porto, a 29 de agosto de 1833 na capela da Quinta da Torre, localizada na mesma freguesia "quasi ao fundo da Viella da Netta", segundo informação constante no assento de casamento. Deste matrimónio não houve filhos. Esta propriedade, onde o casal viveu, designada no testamento da benfeitora por "Quinta da Neta", foi progressivamente sacrificada para a abertura da atual rua de Sá da Bandeira.

Filho de Manuel da Silva Passos e de D. Antónia Maria da Silva Passos, José da Silva Passos era natural da freguesia de São Martinho de Guifões, pertencente ao concelho de Bouças (hoje Matosinhos). Com o seu irmão Manuel da Silva Passos (1801-1862), mais conhecido por Passos Manuel, José da Silva Passos foi uma das figuras ligadas ao Liberalismo que mais se destacou na primeira metade do século XIX. Foi presidente da Câmara Municipal do Porto, em 1834 e 1846, deputado e vice-presidente da Junta Provisória do Governo Supremo do Reino, em 1846, e responsável pelo Código Administrativo de 1836. No romance histórico "Um prato de arroz doce", da autoria de Teixeira de Vasconcelos, que decorre durante a Patuleia, José da Silva Passos (Passos José) é um dos protagonistas.

Em 1867, Ana Margarida legou, para aumento do fundo dos estabelecimentos dos Lázaros, das Lázaras, dos Entrevados, das Entrevadas e dos Órfãos, três inscrições de assentamento da Dívida Fundada Interna, no valor de 100.000 réis cada uma.

A benfeitora morou na Quinta da Torre, propriedade que foi legada em testamento à Santa Casa da Misericórdia do Porto "com os respectivos armazens, quintal e mais pertenças", assim como uma outra casa que a benfeitora possuía na praia de Massarelos, que acabou por vender ainda em vida, e seis contos de réis em "material sonante". Esta quantia, assim como o produto da venda das referidas propriedades, destinar-se-ia exclusivamente ao custeamento das despesas do hospital, excetuando os legados relacionados com a realização de várias missas pela alma da benfeitora, do seu marido e de outros familiares.

No seu testamento deixou também várias quantias monetárias para estabelecimentos de caridade da cidade do Porto relacionados com a proteção de crianças, nomeadamente os Meninos Órfãos e os Meninos Desamparados, mas também para os de fora da urbe, como foi o caso do Recolhimento de Mofreita, em Bragança. À Irmandade de Santo António dos Congregados doou os móveis e as alfaias litúrgicas da sua capela. À Santa Casa da Misericórdia do Rio de Janeiro e à Sociedade de Beneficência Portuguesa desta cidade deixou, em partes iguais, o que lhe pertenceu "das perdas e dannos que se liquidaram com o Governo do Império do Brazil pela tomada da Galera Bizarria", que fora dos pais da benfeitora. Os seus familiares, os seus criados e outras pessoas das suas relações também foram contemplados com várias quantias monetárias.

Faleceu a 1 de junho de 1869, tendo sido sepultada num mausoléu em mármore, que mandou erigir na secção privativa da Misericórdia do Porto localizada no cemitério do Prado do Repouso, e cuja conservação ficaria a cargo da instituição. A benfeitora determinou no seu testamento que o seu corpo seria amortalhado em hábito da Rainha Santa Isabel e os responsos de sepultura que deveriam decorrer na Igreja dos Congregados. Realizado na oficina de Emídio Carlos Amatucci, este mausoléu é idêntico ao que a benfeitora mandou executar na mesma secção para o casal José Pinto Soares (1795-1865) para D. Emília Delfina Costa Soares (1789-1845), seu irmão e sua cunhada respetivamente. Ambos os mausoléus foram encomendados em 1865 e encontram-se junto à entrada da secção, em posição simétrica. Comendador da Ordem de Cristo, José Pinto Soares foi diretor da Companhia dos Vinhos do Alto Douro.

Além do seu jazigo, a benfeitora encontra-se evocada no Livro para a Memória dos Benfeitores da Misericórdia e num retrato de corpo inteiro. Esta obra, de autoria desconhecida, é um óleo sobre tela de grandes dimensões (280 ?190 cm), no qual a benfeitora surge sentada num cadeirão, segurando na mão direita um missal, que realça a sua característica de mulher devota, e apoiando o braço esquerdo numa credência na qual se dispõe um livro aberto com referência à sua data de falecimento.

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